O
sonho dos estudantes da Escola Meninos e Meninas do Parque, localizada no
Parque da Cidade, no Distrito Federal, é o mesmo: sair das ruas. O colégio, que
existe há mais de 20 anos, atende cem alunos que não têm onde morar. Além do
aprendizado, jovens e adultos encontram no local carinho, paciência e
motivação. A grade curricular é a mesma de outras instituições de ensino. A
diferença, segundo a diretora Amelinha Araripe, é que o ritmo de aprendizado de
cada um é respeitado.
Entre
os alunos que já passaram pela escola está Meire Romão, 56. "Meu grande
desejo é ser veterinária", conta. Ela já concluiu o ensino fundamental na
Meninos e Meninas, mas vai diariamente até o local para ajudar na limpeza.
Segundo Meire, apenas a educação pode mudar a vida de uma pessoa.
"O
dia mais feliz da minha vida foi quando vesti uma beca e segurei o diploma. Eu
não tinha planos para o futuro, mas, hoje já estou entregando currículos. Quero
juntar meu dinheiro, sair da rua e fazer um curso". Atualmente, Meire
dorme todos os dias em frente ao Hospital Regional de Brasília.
O
colégio, que é público, tem aulas de informática e oficinas de artes, ciência e
corpo humano. Na escola, os alunos também tomam banho, lancham e almoçam.
Uniformes e kits higiene são disponibilizados.
"Eles
[os alunos] se encontram em uma situação de vulnerabilidade muito grande.
Entretanto, todos respeitam muito o colégio e os professores. Sabem que
encontraram aqui uma família", diz a diretora.
Transformação
O
estudante José Liberato, 64, é morador de rua há 50 anos. Ele já foi preso por
assalto a mão armada e também tráfico de drogas. Encontrou na escola uma chance
de seguir em frente e construir uma nova história. "Já aprendi a escrever
meu nome e ler algumas palavras. Também comprei uma bicicleta para vender
salgadinhos e doces. Com o dinheiro, pretendo alugar um quarto e sair da
rua".
No
local, dez professores atendem alunos que têm a partir de nove anos. Eles são
divididos em turmas de ensino fundamental regular ou EJA (Educação de Jovens e
Adultos). Também existem aulas de reforço para os alunos que precisam.
Após
a conclusão do ensino fundamental, os estudantes são encaminhados para outros
colégios de ensino médio. Porém, o vínculo com a escola Meninos e Meninas não é
desfeito.
"Só
há transformação quando existe educação. Nosso estudante chega aqui como um
diamante bruto. Com bastante carinho, ele fica mais afetivo, educado e
estudioso", diz Amelinha.
Inspiração
para outros estudantes
Fabrício
dos Reis, 25 anos, morava na rua desde criança com a mãe. Ele conta que se
envolveu com drogas e não tinha nenhuma perspectiva de vida. Porém, a vida
começou a mudar quando foi abordado por uma equipe de orientadores sociais.
"Comecei
a estudar aqui e percebi que a droga não tinha futuro. Perdi muitos amigos que
moravam na rua comigo, alguns assassinados, outros presos. Hoje, sou uma
inspiração para outros alunos".
Fabrício
trabalha no projeto Cidade Acolhedora – Serviço Especializado de Abordagem
Social, ganha R$800 e mora de aluguel. Hoje, o jovem sonha em cursar serviço
social na UnB (Universidade de Brasília).
Infraestrutura
O
colégio Meninos e Meninas é de responsabilidade da Secretaria de Educação do DF
e possui alguns problemas de infraestrutura. O local só tem um banheiro, não
tem internet e faltam espaços apropriados para as atividades.
Sobre
os problemas, a pasta informou que encaminhará o mais rápido possível um
técnico da Subsecretaria de Modernização e Tecnologia para instalar uma linha
de internet. A secretaria disse ainda
que está finalizando um plano de obras para o atendimento de todas as escolas
que necessitam de intervenções mais amplas.
Fonte: UOL/Educação
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