A
partir da observação de uma brincadeira dos alunos no intervalo,
professora cria projeto para trabalhar conceitos matemáticos com aviões
de papel
Deborah Ouchana
Em uma sala de 1° ano do ensino fundamental do Colégio Vera Cruz,
em São Paulo, uma das brincadeiras favoritas das crianças durante o
intervalo era se juntar em torno de papeis sulfite, dobrá-los em formato
de avião e arriscar manobras pela escola, como fazê-los planar perto de
um toldo ou voar por cima de uma jabuticabeira. Confeccionar aviões de
papel não é nenhuma novidade entre as crianças; provavelmente, a cena
descrita se repete em diferentes escolas, mas o olhar atento da
professora Silvia Mendonça possibilitou que uma simples brincadeira se
transformasse em aprendizagem.
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Os alunos tentam fazer com que seus aviões atravessem a quadra |
A
professora constatou que a atividade gerava um consumo excessivo de
papel, já que as dobraduras eram constantemente perdidas ou danificadas.
Silvia combinou, então, que cada aluno teria direito a um avião, o que
fez com que as crianças inventassem novas brincadeiras e explorassem os
aviões de papel, com objetivo de aperfeiçoar seu modelo e arremesso.
Era comum ouvir dos alunos frases como "se as asas têm tamanhos
diferentes, o avião dá piruetas" ou "se arremessar no vento o avião não
voa bem". As descobertas das crianças se aproximavam a conteúdos de
matemática e física. "Se ficássemos apenas na esfera da brincadeira,
elas talvez não ampliassem suas pesquisas", conta Silvia.
Devido ao envolvimento dos alunos com a atividade no tempo livre, a
professora decidiu levar a brincadeira para a sala de aula e instigá-los
a testar novas possibilidades com os aviões. A partir da reflexão sobre
aerodinâmica e arremesso, ela introduziu alguns conceitos de geometria
que estavam implícitos na fala das crianças, como o estudo da simetria e
dos ângulos. "Tivemos o cuidado de adequar o conteúdo à faixa etária
deles", explica.
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Estudando a simetria no corpo humano |
Foram
selecionadas, por exemplo, imagensque apontavam a simetria em aviões
convencionais, na natureza e na arte, como nas obras de Escher. Os
alunos puderam perceber que a simetria das asas colabora para o
equilíbrio do avião e passaram a utilizar esse conceito na confecção das
dobraduras.
Em um segundo momento, os alunos foram desafiados a fazer seus aviões
de papel atravessar a quadra esportiva da escola e sobrevoar uma cerca.
Para isso, eles precisavam decidir qual modelo de avião era o mais
adequado, o tipo de arremesso a ser realizado e qual a trajetória
esperada.
Apesar de nenhum aluno ter conseguido fazer seu avião voar a
distância e altura necessárias, Silvia afirma que o fracasso do voo foi
determinante para o sucesso do projeto, pois os alunos tiveram que
justificar o que não deu certo e criar novas hipóteses para serem
colocadas em prática em um novo desafio.
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As descobertas da turma foram registradas em um livro |
Todas
as descobertas feitas durante a atividade foram registradas em um livro
escrito coletivamente pela sala. Para a professora, o projeto
contribuiu de forma positiva não só para as crianças, que avançaram em
uma experiência que realizavam com pouca intencionalidade e reflexão,
como para ela.
"A escuta para as demandas que os alunos trazem é um instrumento
poderoso que pode potencializar a aprendizagem. O projeto me motivou
ainda mais para investir na minha formação", diz.
Fonte: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/0/aprendendo-com-os-avioes-261956-1.asp
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